3M, ANPACT, Coca-Cola FEMSA, Deléctrico e Heineken identificam os pilares para a descarbonização do transporte industrial no México

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Durante a oitava edição da Latam Mobility México 2025, o painel de encerramento “Aposta na descarbonização e sustentabilidade do transporte na cadeia de abastecimento do setor comercial e industrial no México” reuniu os principais atores do ecossistema logístico e manufatureiro.

Moderado por Héctor Usla, jornalista especializado em assuntos econômicos e energéticos do El Financiero, o debate evidenciou os avanços, os desafios compartilhados e a necessidade crítica de colaboração para acelerar a transição para uma cadeia de abastecimento verde.

Com a participação de representantes da Heineken, ANPACT, Delectrico, 3M e Coca-Cola FEMSA, o consenso foi claro: a descarbonização não é apenas uma ambição ambiental, mas um imperativo operacional e competitivo que requer uma estratégia integral, onde a eletrificação desempenha um papel protagonista, embora não exclusivo.

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Estratégias corporativas: eletrificação e além

A sessão começou com a intervenção de Samantha Cantú Ortegón, líder de Sustentabilidade da Heineken, que detalhou a estratégia “Brindar un Mundo Mejor” (Oferecer um Mundo Melhor) da empresa. Ela explicou que, dentro de suas metas de carbono para Alcance 1, 2 e 3, a eletrificação da última milha se posicionou como a solução mais integral no curto prazo.

“Isso nos permite fechar o ciclo completo se a eletricidade for renovável”, afirmou Cantú. No entanto, ela destacou que, além da substituição unidade por unidade, a transição trouxe aprendizados inesperados em eficiência operacional, conscientização do operador e redução de custos de manutenção e combustível.

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Samantha Cantú

Ricardo Nettel, diretor de QSE e Sustentabilidade da Coca-Cola FEMSA, reforçou essa abordagem ao revelar que a maior engarrafadora do sistema Coca-Cola já conta com mais de 1.000 veículos elétricos em sua frota e conseguiu uma redução de 27% em suas emissões (Alcance 1 e 2) desde 2015.

Nettel destacou a importância dos comitês internos de mobilidade elétrica dentro da FEMSA para construir soluções conjuntas entre seus diferentes negócios, bem como a otimização de rotas dinâmicas para minimizar os quilômetros percorridos.

A visão da manufatura e da tecnologia

Da perspectiva da manufatura nacional, Rogelio Arzate, presidente executivo da Associação Nacional de Produtores de Ônibus, Caminhões e Trator-Reboques (ANPACT), destacou que o México já é um produtor ativo de veículos pesados elétricos. “Já produzimos veículos elétricos no país, com linhas especializadas e talento feminino em Nuevo León e Baja California”, disse ele.

Arzate enfatizou que 11 das 15 marcas associadas já oferecem soluções de eletromobilidade, não apenas para carga, mas também para ônibus. Um argumento fundamental foi o do Custo Total de Propriedade (TCO), que é significativamente reduzido com essas tecnologias, oferecendo uma vantagem financeira tangível.

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Rogelio Arzate

Por sua vez, Julio Hernández, diretor comercial da Deléctrico, concordou em observar uma aceleração nos projetos de transporte e mobilidade elétrica dentro da iniciativa privada. Sua empresa, com unidades de negócios em venda de veículos, infraestrutura de carga e serviços, tem se concentrado em oferecer soluções holísticas e consultivas.

“O maior desafio é a parte da infraestrutura e que o cliente tenha clareza sobre o alcance desses projetos”, mencionou Hernández, ressaltando a importância de aprender com experiências pioneiras, como a primeira frota de caminhões elétricos Classe 8 na América Latina.

Os quatro pilares dos desafios a serem superados

O painel identificou de forma unânime os principais obstáculos que impedem uma adoção mais rápida. Rogelio Arzate os estruturou em quatro pilares críticos. Primeiro, a infraestrutura de recarga, apontando que existe apenas um posto de recarga para veículos pesados em todo o país, localizado em Sonora. Segundo, a idade da frota, que no México é em média de 19 anos, com unidades que podem ultrapassar os 50 anos, longe dos padrões atuais de segurança e emissões.

O terceiro pilar são os incentivos e apoios fiscais para a adoção de tecnologias limpas, ainda insuficientes, e o quarto é a regulamentação e normalização, que requer a atualização das normas de emissões, padrões de carga e legislação sobre economia circular para o manuseio de baterias.

Julio Muñoz, diretor de Transporte e Eletrônica da 3M para a América Latina, destacou a importância da colaboração para atingir as metas do Alcance 3, que abrangem as emissões indiretas da cadeia de suprimentos.

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Julio Muñoz

“É quase obrigatório que todos os atores colaborem entre si”, afirmou. Muñoz destacou o papel da ciência e da tecnologia da 3M em áreas como o alívio de materiais e o isolamento térmico para melhorar a autonomia e a segurança das baterias. Ele confiou que, com o esforço conjunto, será alcançado um retorno sobre o investimento (ROI) positivo, beneficiando tanto as empresas quanto o planeta.

Ricardo Nettel, da Coca-Cola FEMSA, quantificou parte desse retorno, afirmando que, em média, os veículos elétricos que eles avaliam são “quatro vezes mais rentáveis” do que as alternativas tradicionais. No entanto, ambos os executivos, juntamente com Samantha Cantú, concordaram com a necessidade de desenvolver “casos de negócios holísticos” que incorporem benefícios intangíveis, como os sociais e de segurança, para refletir o valor total da transição.

Ricardo Nettel

Um apelo ao trabalho em equipe

Nas reflexões finais, os palestrantes enviaram uma mensagem contundente de unidade e propósito em todos os aspectos do transporte.

Samantha Cantú (Heineken) exortou a não perder de vista o objetivo: “Se todos queremos continuar transportando mercadorias e comprando produtos a longo prazo, precisamos de um modelo de transporte viável. Se não agirmos, o futuro que conhecemos vai acabar. A única maneira de evitar isso é trabalhando juntos”. Sua mensagem enfatizou que a descarbonização não é um luxo, mas uma condição essencial para a sobrevivência dos negócios e do planeta a longo prazo.

Rogelio Arzate (ANPACT) reafirmou o compromisso dos fabricantes, anunciando que, para o período 2030-2045, eles acelerarão seu processo de descarbonização no transporte com um portfólio diversificado que inclui diesel ultralimpo, híbridos, elétricos, gás natural e células de hidrogênio.

Julio Hernández (Deléctrico) pediu para aproveitar fóruns como o Latam Mobility para formar alianças e aprender com aqueles que já têm experiência, enquanto Julio Muñoz convidou a manter a “curiosidade e o entusiasmo” para resolver os problemas atuais e aqueles que surgirão no futuro, reafirmando o compromisso da 3M de ser um parceiro tecnológico fundamental nessa transição, colaborando com as diferentes empresas para que cumpram suas próprias metas de sustentabilidade.

Julio Hernández

Por fim, Ricardo Nettel (Coca-Cola FEMSA) encerrou com uma reflexão poderosa: “Ser sustentável é fazer com que seu negócio permaneça para sempre. Como líderes, temos a responsabilidade de promover a descarbonização e compartilhar as boas práticas”.

O painel foi encerrado enfatizando que a descarbonização do transporte de carga no México é um caminho complexo, mas imparável, que é construído com a colaboração estratégica entre a indústria, a ciência, os fornecedores de tecnologia e os marcos regulatórios.

A seguir, o primeiro dia do Latam Mobility México 2025: