No âmbito do encontro Latam Mobility & Net Zero Brazil 2025, realizado em São Paulo, foi realizado o painel “Hidrogênio, Biocombustíveis e Economia Circular na Mobilidade”, que reuniu os principais especialistas dos setores de energia e automotivo.
O painel contou com a participação de renomados especialistas que ofereceram perspectivas complementares sobre os desafios e oportunidades da mobilidade sustentável na região. Fernando Caneppele, pesquisador do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (USP), representou a visão acadêmica; enquanto Anderson Suzuki, gerente executivo de Novos Negócios de Hidrogênio da Hyundai América Central e do Sul, apresentou a perspectiva industrial.
A moderação ficou a cargo de Gustavo Moraes, CEO da SFX Solar, que conduziu um diálogo técnico e propositivo.
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Complementaridade tecnológica como chave para o sucesso
Fernando Caneppele iniciou seu discurso destacando a importância de adotar uma abordagem integrada para a transição energética: “Em um país continental como o Brasil, com realidades regionais tão diversas, precisamos desenvolver um portfólio tecnológico completo”.
“Os veículos elétricos a bateria são ideais para o transporte urbano, enquanto os biocombustíveis e o hidrogênio podem ser soluções mais adequadas para o transporte pesado e de longa distância”, acrescentou.
O pesquisador deu ênfase especial ao potencial do Nordeste brasileiro para se tornar um centro de hidrogênio verde, mencionando projetos concretos em desenvolvimento nos estados do Piauí e do Ceará.
“Essas regiões não só têm excelentes condições para a geração eólica e solar, mas também estão demonstrando uma visão estratégica ao se posicionarem como produtoras dos combustíveis do futuro”, explicou.
O compromisso da Hyundai com o hidrogênio
Por sua vez, Anderson Suzuki apresentou a estratégia global de hidrogênio da Hyundai e sua adaptação às particularidades do mercado latino-americano.
“Como um grupo automotivo, acreditamos firmemente que a descarbonização do transporte exigirá várias soluções tecnológicas. Na Hyundai, estamos investindo simultaneamente em veículos elétricos a bateria, híbridos e com células de combustível de hidrogênio”.
Ele destacou um projeto inovador que estão desenvolvendo em parceria com a USP: “Estamos trabalhando em uma tecnologia para produzir hidrogênio a partir do etanol, que pode ser um diferencial competitivo único para o Brasil”.
“Imagine poder utilizar a infraestrutura já existente de quase 50 mil postos de combustíveis para distribuir etanol que depois seria transformado em hidrogênio em pontos estratégicos”, explicou o representante da Hyundai.
Biocombustíveis: uma vantagem competitiva regional
Os participantes do painel concordaram que os biocombustíveis representam uma oportunidade estratégica para a América Latina.
Caneppele lembrou: “O programa brasileiro de etanol tem 30 anos e é uma história de sucesso reconhecida mundialmente. Hoje temos a oportunidade de dar um novo salto tecnológico, integrando esses combustíveis renováveis com soluções mais avançadas”.
Suzuki acrescentou: “O biometano está ganhando destaque como uma alternativa sustentável e, na Hyundai, já temos experiência na operação de plantas que o convertem em hidrogênio. Essa pode ser outra rota tecnológica importante para a região“.
Desafios a serem superados
Durante o debate, os especialistas identificaram vários obstáculos críticos que precisam ser resolvidos:
- Coordenação institucional: Caneppele observou que “atualmente há uma duplicação de esforços entre as instituições de pesquisa. Precisamos de mais articulação para otimizar os recursos e acelerar o desenvolvimento tecnológico.
- Estrutura regulatória: os membros do painel concordaram que a regulamentação do hidrogênio verde na região ainda está engatinhando e precisa ser mais bem definida para atrair investimentos.
- Financiamento da infraestrutura: Suzuki observou que “os custos iniciais dos postos de hidrogênio são significativamente mais altos do que os dos postos de abastecimento elétricos tradicionais, o que exige modelos de financiamento inovadores”.
Além disso, os membros do painel enfatizaram a importância da integração dos princípios da economia circular em todas as soluções de mobilidade.
Moraes destacou que “não podemos falar de transporte sustentável sem considerar o ciclo de vida completo de veículos, baterias e combustíveis. A circularidade deve ser um pilar fundamental no projeto de todas essas tecnologias”.
Perspectivas e oportunidades regionais
O Nordeste brasileiro surgiu como uma das regiões com maior potencial para liderar a transição energética no setor de transportes.
Caneppele explicou: “Estados como o Piauí e o Ceará estão desenvolvendo clusters industriais de hidrogênio verde com uma visão de exportação, aproveitando seus excelentes recursos renováveis e sua posição estratégica”.
Os participantes do painel também destacaram oportunidades específicas para diferentes modos de transporte:
- Transporte urbano: eletrificação com energias renováveis;
- Transporte pesado de curta distância: biocombustíveis avançados;
- Transporte pesado de longa distância e maquinário pesado: hidrogênio verde;
- Setor de aviação e marítimo: combustíveis sintéticos derivados de hidrogênio renovável.
Uma chamada para ação colaborativa
Em suas conclusões, os especialistas fizeram um forte apelo para fortalecer a colaboração entre todos os atores.
Suzuki enfatizou: “A transição energética é um desafio grande demais para ser enfrentado por um único ator. Precisamos de parcerias estratégicas entre governos, universidades e o setor privado para acelerar o desenvolvimento e a adoção dessas tecnologias”.
Caneppele acrescentou: “Precisamos superar a visão fragmentada que ainda prevalece em muitos setores. Soluções integradas que combinem diferentes tecnologias de acordo com as necessidades específicas de cada aplicativo serão fundamentais para uma transição bem-sucedida”.
Moraes encerrou o painel destacando o papel de reuniões como a organizada pela Latam Mobility: “Espaços como esse são essenciais para construir pontes entre os diferentes atores e avançar em direção a uma mobilidade verdadeiramente sustentável em nossa região”.