O Brasil tem sido um dos pioneiros na América Latina na implantação de modelos sustentáveis. Um grande número de empresas multinacionais tem se ancorado no país para, por meio da tecnologia, buscar reduzir as emissões e ampliar seus conhecimentos para toda a região.
Nesse sentido, o X Latam Mobility Mobility Summit abordou o tema “Mobilidade sustentável como aliada da descarbonização no Brasil”, onde um importante painel com especialistas apresentou seus pontos de vista sobre um tema interessante.
Áreas inovadoras como eletrificação veicular, serviços de aplicação, micromobilidade e intermobilidade ocuparam o palco no segundo dia do encontro virtual.
Levando em consideração que o setor de transporte continua aumentando significativamente suas emissões de carbono, os especialistas explicaram a importância de executar planos que busquem a solução para superar os obstáculos que surgem ao longo do caminho.
Paulo Guimarães, secretário de Mobilidade Urbana do Município de São José dos Campos – SP, comentou sobre os desafios necessários à execução de políticas públicas no processo de descarbonização, por se tratar de um tema cujas grandes mudanças dependem da ação do Governo Federal.
Sobre as perspectivas de governo local, Guimarães disse que o governo está intimamente ligado à legislação e por isso as cidades só podem fazer o que está previsto no planeamento e nos orçamentos. Por exemplo, na cidade de São José há separação de contratos: quem opera o transporte público se dedica a prestar o melhor atendimento à população.
Para quem lida com gestão financeira, é importante se dedicar à execução do processo por meio de uma boa gestão, incluindo a extração de resultados econômicos de solicitações pré-pagas que possam subsidiar motores tarifários e entregar serviços de transporte com foco na qualidade. O resultado é: a empresa aposta no bom atendimento e a cidade pode oferecer qualidade à população com menor custo. Se os dirigentes dos projetos tivessem seguido o modelo tradicional de contratação, a Câmara Municipal não teria podido fazer nada devido ao risco e à incerteza do futuro com a eletrificação da frota. Ao separar o contrato de concessão, a cidade assumiu o risco e adquiriu o material rodante e depois tratou da questão econômica.
Thomas Caldellas, membro da Coordenação Geral de Regimes Automotivos do Ministério da Economia, explicou que o maior papel de coordenação tem sido desempenhado há quase uma década com as metas de eficiência energética para as frotas de veículos novos que são comercializados no país. O grande desafio é começar a trabalhar no próximo ciclo, como eles chamam de eficiência sustentável, que seria combinar o parâmetro energético com o ambiental, medindo também os gases de efeito estufa e não apenas a eficiência energética. Outra questão que pode contribuir é o estabelecimento de procedimentos para medir a eficiência energética ambiental de veículos pesados. Atualmente, segundo Caldellas, o ministério trabalha apenas com veículos leves, mas gostaria de trabalhar com veículos pesados em um futuro próximo.
O que Caldellas explicou e considera importante é a tentativa de integrar o RenovaBio, projeto do Ministério de Minas e Energia, à política automotiva. O principal objetivo é promover o uso de biocombustíveis e, ao mesmo tempo, uma produção mais eficiente.
Tiago Faierstein, gerente de Novos Negócios da ABDI, falou sobre as cidades brasileiras que experimentam tecnologias e trazem novos modelos de negócios. “O resultado disso é a colisão de veículos elétricos e outros conjuntos de propulsão de veículos verdes. O grande obstáculo para ter investimento é o custo dos veículos elétricos e de outras propulsões de veículos verdes, como o hidrogênio, por exemplo. Nesse sentido, os novos modelos de negócios estão trazendo o uso compartilhado de veículos elétricos para a frota pública. Isso traz políticas fiscais já traçadas pelo antigo Ministério da Indústria e Comércio com a Rota 2030. Porém, ainda há muito por fazer, mesmo em um mercado tão incipiente ”, comentou Tiago.
Faierstein disse que outro fator a ser considerado é aquele que envolve questões de políticas públicas. Ou seja, é preciso abordar a questão da isenção do IPVA com os gestores públicos, trabalhar com novos modelos de negócios, aprimorar a tecnologia, fortalecer a rede para que os custos sejam reduzidos e esses veículos sejam cada vez mais disseminados pela sociedade. Hoje, os números são mínimos, pois ainda são poucos os veículos elétricos no Brasil. Com isso, a expectativa é ter entre 30% e 60% da frota elétrica do país para ter sucesso no desenvolvimento do setor no médio e longo prazo.
Além disso, ele exemplificou o problema que ocorria no Brasil com as scooters elétricas: Houve um grande movimento com vários veículos dessa natureza distribuídos por todo o país e então foi necessário fazer uma política pública. Se tivesse sido testado anteriormente em menor escala, validado com a população, gerado políticas públicas, talvez isso não tivesse acontecido. O que falta é planejamento.
Diante da afirmação de que se de repente tudo no Brasil se juntar à tecnologia elétrica, o país enfrentaria um problema energético, Cristina Albuquerque, gerente de Mobilidade Urbana do WRI Brasil, respondeu dizendo que é importante pensar não só na transição tecnológica para a substituição de veículos de combustão por veículos elétricos. É preciso, claro, pensar em como transformar a mobilidade da nossa cidade em algo mais sustentável.
Explicou que existe uma política nacional de mobilidade urbana desde 2012 que prevê a priorização do transporte ativo e coletivo para alcançar a mobilidade com emissões zero. É preciso passar por essa transição tecnológica e garantir que os veículos tenham emissão zero em todo esse processo.
Albuquerque acredita que é preciso haver investimento, uma maior priorização no transporte público ligado ao transporte ativo e pensar, de fato, como um serviço em que as pessoas têm a opção de escolher quais modais vão viajar nas cidades. Porém, é fundamental que a cidade ofereça condições para isso e priorize os modais mais sustentáveis, a saber: transporte ativo e coletivo.
Em relação à matriz energética, o Brasil, em geral, é o país que mais leva vantagem em relação a todos os países que estão passando por essa transição tecnológica, pois possui uma matriz mais limpa, chegando a praticamente 70%.
É importante ressaltar que o sistema não estaria em condições de operar se hoje 100% da frota do Brasil, durante a noite, fosse elétrica. Se olharmos os investimentos do país, com uma transição gradativa, é capaz de atender à demanda que leva todos os veículos a serem elétricos nos próximos anos.
Em relação à infraestrutura, o especialista mencionou a necessidade de aproximar os benefícios do processo de eletrificação do setor automotivo da população. Embora as obras estejam sendo realizadas nas cidades, as pessoas precisam pensar na importância da mobilidade como um todo.
Texto: Renata Correia