No âmbito da Latam Mobility México 2025, foi realizado o painel “Análise do impacto e das oportunidades da indústria automotiva mexicana diante de um ambiente econômico em mudança”, um espaço de diálogo estratégico onde líderes das principais montadoras e consultorias expuseram suas visões sobre a reinvenção da oferta de veículos, a redução de emissões e a inovação como eixo central para o sucesso futuro.
O debate, moderado por Ronaldo Sandoval, diretor de Análise e Consultoria da EvolvX, contou com a participação de Adrián Enciso, da General Motors México, Geoffrey Gerring, da AVL, Ghaith Semaan, da Changan, Lizette Gracida, da Toyota, Ricardo Arvizu, da Geely, e Sergio González, da GAC Motor.
Você também pode se interessar por | A “Revolução do Megawatt” chega ao México: Huawei anuncia o carregamento que transformará a logística
Visão de longo prazo e compromisso sustentável
A sessão começou com a apresentação de cada representante, destacando a trajetória e o compromisso de suas empresas com a mobilidade sustentável. Adrián Enciso, Diretor de Veículos Elétricos e BrightDrop da General Motors México, destacou os 90 anos da empresa e sua posição como o primeiro produtor de veículos elétricos do país.
Por sua vez, Geoffrey Gerring, Desenvolvimento de Negócios de E-mobility da AVL, definiu a empresa como um aliado tecnológico fundamental para a indústria, com 75 anos de experiência apoiando o desenvolvimento de soluções de mobilidade.
Ghaith Semaan, gerente do Programa de Veículos de Nova Energia, enfatizou os mais de 160 anos de experiência da Changan e sua missão de oferecer veículos de nova energia com tecnologia avançada e preços acessíveis.
Por sua vez, Lizette Gracida, diretora sênior de Relações Institucionais e Comércio Exterior da Toyota, explicou a transição da empresa de uma montadora para uma empresa de mobilidade, sob a estratégia “CASE” (Conectividade, Autonomia, Compartilhamento e Eletrificação).
Ricardo Arvizu, diretor de Produto da Geely, apresentou a empresa como um ator que democratiza as tecnologias premium de sua holding para o mercado mexicano, enquanto Sergio González, diretor comercial da GAC, destacou os mais de 60 anos da empresa e seu foco na inovação constante e nas alianças estratégicas.
A eletromobilidade como oportunidade estratégica
Ao abordar a questão de por que é crucial agir hoje e não amanhã, os palestrantes concordaram com a urgência de adaptar as estratégias corporativas para aproveitar as oportunidades da eletromobilidade.
Lizette Gracida detalhou o “Desafio Ambiental 2050” da Toyota, que busca a neutralidade de carbono em todo o ciclo de vida do veículo, desde os fornecedores até a reciclagem. Ela anunciou um investimento de US$ 1,4 bilhão no México para produzir o Tacoma híbrido, o primeiro veículo elétrico da marca montado localmente.
No entanto, ela destacou um dado crucial: mais de 90% da produção mexicana de veículos elétricos é exportada, devido aos desafios locais de infraestrutura, energias renováveis e falta de incentivos.
Geoffrey Gerring complementou essa visão da perspectiva tecnológica, explicando como a AVL apoia as montadoras na descarbonização de fábricas e no desenvolvimento e validação de componentes críticos, como baterias, por meio de serviços de engenharia, tecnologias de teste e software.
Estratégias para um mercado em transformação
Os executivos expuseram como suas organizações estão se adaptando internamente. Sergio González, da GAC Motor, explicou o plano escalonado da marca para se estabelecer no México como um hub continental, acelerado pelo contexto geopolítico atual. Ele destacou a importância de ouvir o consumidor local para desenvolver produtos específicos, como os elétricos de longo alcance.
Ricardo Arvizu, da Geely, abordou o conceito de “verticalidade”, que implica trabalhar em toda a cadeia de valor, desde os fornecedores até o estilo de vida do cliente final. Ele mencionou o uso de inteligência artificial em seu aplicativo para otimizar o fornecimento de energia elétrica dos veículos e promover um modo de vida mais sustentável.
Para Ghaith Semaan, da Changan, a chave está na “acessibilidade”. Ele ressaltou que, além da qualidade, é fundamental oferecer preços competitivos para popularizar a adoção de veículos elétricos e híbridos no mercado.
Adrián Enciso, da General Motors, enfatizou a visão de “zero emissões, zero colisões e zero congestionamentos”. Ele destacou o investimento no centro de engenharia em Toluca, a produção local de unidades de propulsão elétrica em Ramos Arizpe e uma estratégia robusta que inclui a certificação de distribuidores (EV Experts) e alianças para expandir a infraestrutura de recarga rápida.
Um dos consensos do painel foi a necessidade crítica de uma colaboração estreita entre a indústria, o governo e a academia. Lizette Gracida foi enfática ao apontar que é necessária uma política pública “integral e de longo prazo” baseada em três pilares: infraestrutura, incentivos e regulamentação. Só assim o México poderá aproveitar as oportunidades do “nearshoring” e definir seu papel na cadeia de valor regional.
Geoffrey Gerring acrescentou uma camada tecnológica a essa necessidade, citando o “Battery Passport” (Passaporte de Bateria), que será obrigatório na Europa a partir de 2027. Isso, argumentou ele, abre uma enorme oportunidade para o México se posicionar na produção e reciclagem de baterias, atraindo investimentos das indústrias química, de telecomunicações e de software.
Pilares para o sucesso coletivo
Ao projetar o futuro, as apostas tecnológicas são diversas e ambiciosas. Adrián Enciso falou sobre a melhoria contínua nas baterias, como a de lítio-magnésio com a LG Energy, que oferece 33% mais densidade energética, e a expansão do portfólio com opções como híbridos plug-in que servem de ponte para os clientes.
Geoffrey Gerring destacou como a inteligência artificial e a simulação em bancos de ensaio como o “Integra” estão encurtando os ciclos de desenvolvimento de veículos de 4 anos para apenas 1,5, permitindo responder com agilidade às demandas do mercado.
Para Ghaith Semaan, a inovação também reside no fortalecimento das alianças com parceiros tecnológicos (como a Huawei) e no trabalho com bancos, escolas e governos para impulsionar a transição de forma integral.
Lizette Gracida reafirmou a abordagem multitecnológica da Toyota (híbridos, plug-in, elétricos puros e a hidrogênio) como o caminho mais eficaz para uma transição ordenada e centrada no cliente, revelando que 44% dos veículos elétricos vendidos no México são Toyota.
Ricardo Arvizu antecipou que a cibersegurança será um tema crítico até 2028, razão pela qual a Geely já está trabalhando para proteger o software e a experiência do usuário de forma antecipada.
Sergio González encerrou as intervenções com uma visão otimista, garantindo que o futuro trará inovações que “ainda não podemos imaginar”, desde maior autonomia até direção semiautônoma, tornando a indústria automotiva um setor mais empolgante e promissor do que nunca.
O painel foi encerrado com uma reflexão unânime: a reinvenção da indústria automotiva mexicana diante da eletromobilidade e da economia em transformação não é apenas uma questão de tecnologia ou veículos, mas de construir um ecossistema completo.
A inovação deve ser o motor que guie a criação de cadeias de valor mais robustas, políticas públicas visionárias e uma colaboração sem precedentes entre todos os atores, para garantir que o México não seja apenas uma potência manufatureira, mas um líder em mobilidade sustentável para as Américas.
A seguir, o primeiro dia do Latam Mobility México 2025: