No âmbito da oitava edição do “Latam Mobility México 2025”, o painel “Estratégias de mercado na gestão logística e de última milha para mitigar os riscos da volatilidade global e regional” reuniu alguns dos principais líderes da cadeia de abastecimento, que concordaram que a integração de soluções sustentáveis e tecnológicas não é mais uma opção, mas uma responsabilidade empresarial e uma vantagem competitiva indispensável para navegar em um ambiente geopolítico e climático incerto.
O debate, moderado por Elia Chema Guzmán, diretora geral da Revista Alianza Flotillera, contou com a participação de Gabriela de la Torre (C40 Cities), Isabel Studer (Sustentabilidade Global), María Griselda Hernández (Estafeta Mexicana), Omar Ramírez (Mercado Libre México) e Ricardo Romanelli (99minutos.com).
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A sustentabilidade como vantagem competitiva
A discussão começou com uma premissa clara: a transição para modelos logísticos sustentáveis é um imperativo estratégico na cadeia de abastecimento. Para Gabriela de la Torre, chefe de Veículos com Emissão Zero na LATAM da C40 Cities, a última milha representa uma das áreas de oportunidade mais significativas.
“Os veículos elétricos, apesar de serem mais eficientes, dependem do custo total da operação para serem competitivos. Na logística urbana, esse custo pode ser reduzido de forma muito significativa”, afirmou, destacando a sinergia entre a eletrificação, a redução de emissões e o crescimento do comércio eletrônico.

María Griselda Hernández, CCO e CMO da Estafeta Mexicana, ampliou a perspectiva, ressaltando que a sustentabilidade vai além da eletromobilidade. “Para a Estafeta, como integradora logística, isso abrange desde combustíveis alternativos, como metanol verde e hidrogênio, até a logística circular. Hoje, a sustentabilidade não é mais um custo, é um investimento inteligente que diferencia as empresas”.
Por outro lado, Isabel Studer, presidente de Sustentabilidade Global, alertou sobre os cenários voláteis e destacou que a inteligência artificial e a digitalização deixaram de ser ferramentas opcionais para se tornarem elementos indispensáveis não apenas para a eficiência operacional, mas para a própria resiliência e sobrevivência das empresas do setor.
“Essas tecnologias são fundamentais em um mundo onde vivemos tremendas rupturas. A IA se torna uma ferramenta muito importante para as empresas de logística, mas também para a competitividade”, afirmou Studer, destacando seu papel para garantir que o fluxo de mercadorias se mantenha apesar dos desafios globais.

Omar Ramírez, diretor sênior de Logística do Mercado Libre México, exemplificou o compromisso do setor com a diversificação de modelos. “Na Mercado Libre, entendemos que muitos veículos, mesmo que sejam elétricos, geram congestionamento. Por isso, complementamos nossa frota de mais de 1.000 veículos elétricos com uma rede de mais de 3.000 agências onde as entregas são feitas de bicicleta ou a pé”, explicou, destacando como a capilaridade e a tecnologia permitem otimizar as entregas.
Eficiência operacional e pegada ambiental
Diante do crescimento exponencial do comércio eletrônico, os palestrantes exploraram como equilibrar a demanda por rapidez com as metas ambientais da cadeia de suprimentos.
Ricardo Romanelli, diretor de operações da 99minutos.com, compartilhou uma visão pragmática e otimista. “O volume massivo gerado pelo comércio eletrônico nos permite diluir custos e viabilizar o investimento em eletromobilidade. No entanto, o grande desafio que se aproxima é entender o mercado secundário desses veículos e o custo de manutenção a longo prazo, algo que ainda é uma incógnita para a indústria”.
María Griselda Hernández acrescentou que a responsabilidade também recai sobre o consumidor final. “A rapidez que exigimos como usuários é uma área de oportunidade. Como empresas, temos que equilibrar três fatores: a satisfação do cliente, o cuidado com o planeta e a rentabilidade do nosso negócio”.

Gabriela de la Torre enfatizou o papel crucial do planejamento urbano e da colaboração público-privada. “As cidades podem identificar áreas que atraem demanda para implementar microcentros logísticos ou ‘mini hubs’ que permitam o uso da micromobilidade, reduzindo o impacto. Os dados que as empresas possuem são vitais para que os governos invistam em infraestrutura de maneira estratégica”.
Omar Ramírez destacou o poder da inteligência artificial e do aprendizado de máquina para alcançar essa eficiência. “Nossos modelos preditivos nos permitem antecipar quais produtos serão vendidos em cada zona, aproximando-os dos centros de distribuição corretos. Isso se traduz em menos quilômetros percorridos, menos caminhões nas estradas e um agrupamento mais eficiente de pacotes na última milha”.

Os motores da logística resiliente
A integração de tecnologias emergentes foi apresentada como o fator-chave para construir cadeias de suprimentos ágeis e adaptáveis. Isabel Studer alertou sobre o contexto global de disrupções, apontando que a colaboração coletiva é o único caminho, e destacou o papel crucial dos dados gerados pela inteligência artificial para preencher as lacunas de informação que hoje freiam a escalabilidade de soluções como a eletromobilidade.
Por sua vez, Ricardo Romanelli compartilhou a revolução que a 99minutos.com está vivendo. “Nos últimos 12 meses, vimos uma imersão brutal da IA. Redesenhamos 100% dos processos logísticos tradicionais, otimizando rotas e agrupando volumes de uma forma impensável há alguns anos. Além disso, isso nos permitiu atingir mais de 90% de confiabilidade na verificação de entregas, reduzindo significativamente as fraudes”.

Para encerrar, Gabriela de la Torre fez um convite enfático à ação coletiva a partir de sua função na C40 Cities. “Nossa missão é disseminar o conhecimento. Precisamos de informações confiáveis e projetos demonstrativos que gerem alianças entre governos e empresas. Só assim poderemos escalar soluções e quantificar os benefícios sociais, ambientais e econômicos da descarbonização logística”.
O painel concluiu com um consenso claro: o futuro da logística e da cadeia de suprimentos na América Latina dependerá da capacidade dos atores públicos, privados e da sociedade civil de trabalhar de forma colaborativa.

A eletromobilidade, a IA e os modelos de negócios circulares não são fins em si mesmos, mas ferramentas poderosas para construir um sistema logístico que seja, ao mesmo tempo, um motor econômico e um pilar para a sustentabilidade global.
A seguir, o primeiro dia do Latam Mobility México 2025: