Durante sua apresentação no evento Latam Mobility & Net Zero Brazil 2025 summit, realizado recentemente em São Paulo, Thiago Hipólito, Diretor de Inovação da 99 e membro do Conselho de Administração da Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE), dedicou parte de seu discurso à análise do caso chinês como modelo de referência para a região.
Com dados convincentes, ele demonstrou como o gigante asiático conseguiu se posicionar como líder incontestável da mobilidade elétrica em nível global.
O executivo revelou números chocantes: a China responde atualmente por mais de 50% das vendas globais de veículos elétricos, um número que, por si só, demonstra o processo acelerado de transição energética naquele país.
Mas o mais revelador foi a informação sobre a Didi, a maior plataforma de mobilidade do mundo e controladora da 99, que faz 70 milhões de viagens por dia, 70% das quais já são feitas em veículos elétricos.
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O ecossistema na China: uma história de sucesso abrangente
Hipólito se aprofundou nos principais componentes que tornaram esse sucesso possível na China, destacando especialmente a enorme infraestrutura de carregamento. “Na plataforma da Didi, temos 4 milhões de veículos elétricos registrados e operamos 170.000 pontos de recarga”, explicou.
“Na verdade, desenvolvemos aplicativos específicos para gerenciar essa rede, o que nos torna tecnicamente a maior frota elétrica e rede de recarga do mundo.”
Uma estatística particularmente reveladora foi que 50% de todos os quilômetros percorridos por veículos elétricos na China são viagens feitas por meio da plataforma da Didi, enquanto 40% de toda a energia de carregamento consumida por VEs no país é usada por veículos de sua frota.
Esses números demonstram o papel de liderança que as plataformas de mobilidade podem desempenhar na transição energética.
O modelo chinês na realidade brasileira
Transpondo essas experiências para o contexto brasileiro, Hipólito apresentou um modelo estratégico baseado em três pilares fundamentais que justificam e orientam a transição para a mobilidade elétrica no país.
O primeiro pilar, de natureza socioeconômica, foca no impacto direto sobre os motoristas. De acordo com os dados apresentados, um motorista profissional de plataformas digitais percorre, em média, 6.000 quilômetros por mês.
Migrar para veículos elétricos representa para eles uma redução de 80% nos custos operacionais, o que se traduz em uma economia mensal de 2.500 a 3.000 reais. “Isso muda vidas”, enfatizou Hipólito, ‘e é um poderoso impulsionador da adoção em massa’.
A dimensão ambiental: redução das emissões em escala
O segundo pilar aborda o aspecto ambiental crucial. Cada veículo elétrico que substitui um veículo de combustão interna na plataforma evita a emissão de 1,5 tonelada de CO2 por mês.
Em uma escala de frota, isso representa um impacto ambiental significativo. Hipolito mostrou como, com os mais de 11.000 EVs atualmente integrados à plataforma, 10.000 toneladas de emissões já foram evitadas, um número que está crescendo exponencialmente mês a mês.
Excelência operacional e satisfação do usuário
O terceiro pilar diz respeito à experiência do usuário, tanto para motoristas quanto para passageiros. Os dados do NPS (Net Promoter Score) apresentados foram convincentes: os motoristas de veículos elétricos mostram níveis de satisfação próximos a 100%, muito mais altos do que os dos veículos tradicionais.
“Isso não é coincidência”, explicou Hipólito. “Os veículos elétricos oferecem maior conforto, menos ruído e uma experiência de condução superior, o que se traduz em melhores avaliações por parte dos usuários”.

Uma aliança como modelo de colaboração do setor
Um dos destaques da apresentação foi quando Hipólito detalhou o funcionamento da Aliança para Mobilidade Sustentável, criada em 2022.
Essa iniciativa reúne fabricantes de veículos, instituições financeiras, empresas de tecnologia, provedores de infraestrutura e empresas de energia em um esforço coordenado para acelerar a transição.
“Percebemos rapidamente que nenhum ator poderia fazer isso sozinho”, confessou Hipolito. “Era necessário todo um ecossistema trabalhando de forma coordenada.”
A parceria possibilitou investimentos de mais de R$ 300 milhões em três anos, desenvolvendo soluções inovadoras, como sistemas avançados de telemetria para VEs e modelos financeiros adaptados às necessidades dos motoristas.
Inovações disruptivas: testes de estrada e créditos de carbono
Duas iniciativas específicas chamaram a atenção por seu caráter inovador. A primeira são os testes de estrada, em que os veículos elétricos são testados por motoristas reais na plataforma, gerando relatórios detalhados que ajudam os fabricantes a otimizar seus projetos para uso intensivo de mobilidade compartilhada.
O segundo é o desenvolvimento de uma metodologia pioneira para monetizar créditos de carbono especificamente para frotas de VEs.
“Criamos um sistema que nos permite calcular com precisão as reduções de emissões e transformá-las em benefícios econômicos para os motoristas”, explicou Hipólito. Atualmente, esse modelo está sendo testado com 200 veículos e promete ser ampliado para toda a frota elétrica da plataforma.
Histórias concretas de sucesso: do BYD D1 ao Electric Pro
A apresentação incluiu vários exemplos tangíveis do trabalho realizado. O BYD D1, um veículo projetado especificamente para o transporte coletivo, já transportou mais de 5 milhões de passageiros em São Paulo, tornando-se um verdadeiro “embaixador da mobilidade elétrica”, com mais de 1,5 bilhão de visualizações de sua publicidade móvel.
Outro destaque é o Electric Pro, a categoria premium do aplicativo reservada para veículos elétricos, onde os motoristas ganham em média 70% a mais por viagem.
“Quando você soma isso à economia de combustível, a renda líquida dos motoristas pode aumentar em até 50%”, destacou Hipólito. O sucesso foi tanto que eles planejam expandir essa categoria para mais cinco cidades até 2025.
Metas ambiciosas e crescimento exponencial
As projeções apresentadas foram contundentes: até 2040, 85% da frota da 99 será elétrica. Mas as metas de curto prazo são igualmente ambiciosas: 20.000 veículos e 10.000 motocicletas elétricas até o final de 2025, além de 15.000 pontos de recarga estrategicamente implantados.
O crescimento já é evidente: de apenas 100 EVs em 2022 para mais de 11.400 atualmente, com uma taxa de adição de 700 a 1.000 novos veículos elétricos por mês.
“Essa curva de adoção supera todas as nossas expectativas iniciais”, comemorou Hipólito.
Conclusão: um chamado para a ação coletiva
Em suas palavras finais, Hipólito fez um apelo enfático à ação: “A eletrificação do transporte não é uma opção, é uma necessidade urgente. Mas requer o compromisso de todos: empresas, governo e sociedade civil.
Ele enfatizou especialmente a importância de políticas públicas que incentivem essa transição e combatam a desinformação sobre os veículos elétricos.
“Na 99, estamos convencidos de que o Brasil pode ser um líder regional em mobilidade sustentável. A Aliança para a Mobilidade Sustentável é nossa contribuição concreta para esse objetivo, mas o caminho está apenas começando”, concluiu, deixando claro que o compromisso com a descarbonização do transporte é uma prioridade estratégica para a empresa.