As discussões e análises no âmbito da “Latam Mobility México 2025” tiveram início com o painel “Plano de ação diante do novo cenário de descarbonização na Mobilidade Sustentável no México”, um diálogo de alto nível que reuniu secretários de estado e representantes internacionais para analisar o marco regulatório e as políticas públicas necessárias para impulsionar uma transição eficaz do transporte.
O debate, moderado por Adriana de Almeida Lobo, diretora-gerente do World Resources Institute (WRI), contou com a participação de Daniel Sibaja, secretário de Mobilidade do Estado do México; Héctor Ulises García, secretário de Mobilidade da Cidade do México; Manuel Herrera, secretário de Desenvolvimento Energético Sustentável de Jalisco; e Gabriela de la Torre, chefe de Veículos com Emissão Zero na LATAM para C40 Cities.
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Da coordenação à integração metropolitana
A sessão começou com uma análise sobre a necessidade de uma visão de mobilidade que transcenda a eletromobilidade e aborde um ecossistema diversificado.
A esse respeito, Daniel Sibaja destacou a urgência de entender a Zona Metropolitana do Vale do México como uma grande metrópole. “O Estado do México deve copiar as boas práticas da Cidade do México. Temos um atraso de 35 ou 40 anos, o que vemos como uma oportunidade para implementar sistemas de mobilidade em curto prazo”, afirmou.
Sibaja apresentou o sistema “Movimix” do Estado do México, baseado na intermodalidade, na gratuidade das baldeações e na integração tarifária. Ele destacou marcos como a conexão em Indios Verdes, onde os usuários podem utilizar o cartão de mobilidade da CDMX em sistemas como o metrô, o Metrobús, o Mexibús e o Cablebús.
“A mobilidade começa a ser uma mobilidade metropolitana interconectada e aí está o grande desafio”, disse ele, anunciando um investimento de cerca de 10 bilhões de pesos em três novas linhas de BRT (Bus Rapid Transit) para o estado.
Por sua vez, Héctor Ulises García propôs evoluir do conceito de coordenação metropolitana para um de integração em uma “grande megalópole”. Ele enfatizou que a visão da Cidade do México se concentra em fortalecer o transporte público, renovar a frota de veículos para elétricos e promover a micromobilidade com uma expansão significativa das ciclovias.
“Nossa proposta é se é necessário avançar além da coordenação para uma integração. Hoje não existem mais barreiras físicas ou territoriais porque a mobilidade as ultrapassa”, afirmou.
García detalhou projetos-chave como a construção de cinco novas linhas de Cablebús, a renovação das linhas de trólebus, a duplicação da capacidade do Trem Leve e a modernização do Metrô, com o objetivo de criar uma “mobilidade inteligente” que inclua semaforização adaptativa e uso de dados para um planejamento flexível.
Garantir o fornecimento para a eletromobilidade
O painel também abordou um dos maiores gargalos para a transição: a infraestrutura energética.
Manuel Herrera, representante de Jalisco, explicou que a demanda energética disparou globalmente, tornando-se um fator decisivo para atrair investimentos. “Hoje, a primeira pergunta dos investidores para chegar a uma cidade é se há energia e se há água”, afirmou.
Herrera expôs os três objetivos da nova Secretaria de Desenvolvimento Energético Sustentável de Jalisco: garantir o fornecimento de energia, aumentar a competitividade com energias renováveis e acelerar a transição para reduzir as emissões.
Ele anunciou que as novas linhas do Trem Leve em Guadalajara (Linha 4 e a futura Linha 5 para o aeroporto) operarão com energia renovável e 100% elétrica, respectivamente.
Além disso, destacou o potencial da geração distribuída e do autoconsumo, permitidos pela nova legislação, para impulsionar a infraestrutura de carga. “Temos que garantir o abastecimento para a eletromobilidade. As linhas de transmissão estão ficando saturadas”, alertou.

Oportunidades climáticas e econômicas
Gabriela de la Torre, representante da rede C40 Cities, contribuiu com uma perspectiva regional e destacou que a eletromobilidade deve ser um meio, não um fim, dentro de uma visão de cidade centrada nas pessoas.
“Precisamos dessa visão de cidade centrada nas pessoas. E para que seja centrada nas pessoas, ela precisa ser responsiva às necessidades”, afirmou.
Ela enfatizou que a transição representa uma oportunidade para a formalização do setor de transportes, a geração de empregos verdes e o desenvolvimento econômico.
Ele citou como exemplos os programas do Brasil e da Colômbia, onde os governos federais estabeleceram mecanismos de cofinanciamento e metas ambiciosas para a descarbonização do transporte público e de carga.
“A eletromobilidade é uma grande oportunidade que o setor de transportes tem para sua formalização. Isso implica uma transição completa institucional, política e de sua governança”, afirmou.

Abordagens para o futuro
Na rodada de encerramento, os palestrantes concordaram com a necessidade de aumentar a ambição e a colaboração.
Daniel Sibaja reiterou a disposição do Estado do México em aprender com as boas práticas e construir um modelo de gestão bem-sucedido, enquanto Héctor Ulises García destacou que o foco deve estar na transformação das mais de 34,7 milhões de viagens diárias na metrópole por meio de uma mobilidade inteligente e integrada.
Por sua vez, Manuel Herrera destacou os quatro eixos de Jalisco: garantir que a eletromobilidade use energia limpa, promover a reconversão veicular, migrar as frotas governamentais e aproveitar o ecossistema tecnológico local para gerar inovação e emprego.
Por fim, Gabriela de la Torre fez um apelo para pensar a mobilidade com uma “lente climática”: “Temos que ser muito mais ambiciosos e apostar em tecnologias 100% zero emissões. O objetivo é que as pessoas tenham um ar mais limpo, cidades menos congestionadas e sistemas de transporte mais eficientes”.
O painel foi encerrado com uma mensagem unânime: a descarbonização do transporte no México é um imperativo climático e uma poderosa alavanca para melhorar a qualidade de vida das pessoas, a competitividade econômica e a justiça social, exigindo uma ação concertada e ousada entre todos os níveis do governo e o setor privado.