Latam Mobility & Net Zero Brazil 2025: líderes do setor discutem desafios e oportunidades para transformar a mobilidade brasileira

Latam Mobility

Como parte da abertura do Latam Mobility & Net Zero Brazil 2025, realizado em São Paulo com a participação de mais de 700 especialistas de 20 países, o painel “Governança inteligente e inovação para acelerar a mobilidade sustentável no Brasil” reuniu vozes importantes dos setores público, privado e acadêmico.

Marcelo Seraphim, diretor da Principles for Responsible Investment no Brasil, abriu o debate destacando: “Estamos diante de uma oportunidade histórica. O Brasil pode se posicionar como um líder global em mobilidade sustentável, mas para isso precisamos criar as condições certas para atrair investimentos responsáveis”.

A taxonomia verde que estamos desenvolvendo será fundamental para orientar os fluxos de capital para projetos verdadeiramente transformadores”, acrescentou.

Carmen Araújo, líder regional do ICCT no Brasil, enfatizou a necessidade de superar abordagens fragmentadas: “Há anos falamos em eletrificação, mas de que adianta termos ônibus elétricos se não resolvemos questões como geração de energia limpa, planejamento urbano ou segurança viária? Precisamos de políticas públicas que integrem todos esses componentes de forma sistêmica”.

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Marcelo Seraphim

Obstáculos e experiências

Andre Jannini, vice-presidente do Instituto Brasileiro de Mobilidade Sustentável, ofereceu um diagnóstico contundente: “A burocracia brasileira é a melhor aliada do status quo. Enquanto mantemos milhões em subsídios para combustíveis fósseis, colocamos obstáculos intransponíveis no caminho dos empresários que querem inovar.

Jannini compartilhou uma anedota reveladora: “Quando desenvolvemos nosso primeiro protótipo de veículo elétrico, passamos mais tempo preenchendo formulários do que melhorando o produto. Isso precisa mudar se quisermos ver resultados diferentes”.

Andre Jannini

Valeska Peres Pinto, coordenadora do Programa de Melhores Práticas da UITP América Latina, enriqueceu a discussão com exemplos concretos: “O Chile nos mostra o caminho. Sem recursos petrolíferos, eles transformaram essa limitação em uma oportunidade. Hoje eles têm uma estratégia clara para a eletrificação dos corredores de transporte, desenvolvida com a participação de todos os atores relevantes: empresas de energia, operadores de transporte, fabricantes de veículos e autoridades reguladoras”.

Ao contrastar essa experiência com a realidade brasileira, Peres Pinto destacou: “No Brasil, temos excelentes planos nacionais, mas uma enorme lacuna na capacidade de implementação local. Muitos municípios não têm estrutura técnica para desenvolver projetos complexos. Precisamos urgentemente de mecanismos de cooperação intermunicipal e assistência técnica permanente”.

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Valeska Peres Pinto

Setores estratégicos para a transformação

Os membros do painel identificaram áreas prioritárias para concentrar esforços:

  • Infraestrutura de carregamento inteligente: “Não se trata apenas de instalar carregadores”, explicou Jannini. “Precisamos integrá-los ao sistema de energia, aproveitar as fontes renováveis e desenvolver modelos de negócios inovadores que os transformem em ativos estratégicos, e não apenas em custos operacionais.
  • Mobilidade na última milha: Araújo observou que “o aumento do comércio eletrônico criou uma oportunidade única. As empresas de logística estão descobrindo que a eletrificação não é boa apenas para sua imagem, mas também para seus resultados financeiros. Esse é um caso em que os incentivos econômicos e ambientais estão perfeitamente alinhados”.
  • Plataformas digitais: Seraphim acrescentou que “a verdadeira revolução virá da integração de sistemas por meio de plataformas inteligentes. A mobilidade como serviço (MaaS) permitirá otimizar o uso da infraestrutura existente e oferecerá alternativas realmente atraentes ao carro particular”.
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Carmen Araújo

Um chamado para a ação coletiva

Em suas observações finais, os especialistas fizeram um forte apelo à ação:

“Estamos perdendo muito tempo em discussões teóricas”, disse Jannini. “A tecnologia existe, os recursos existem, o que está faltando é a vontade política para remover os obstáculos e criar as condições propícias. A mobilidade sustentável não é uma questão técnica, é, antes de tudo, um desafio de governança e liderança”.

Peres Pinto concluiu com uma mensagem de esperança: “Vamos aprender com as experiências bem-sucedidas em nossa região. Onde há vontade política, coordenação institucional e participação do setor privado, os resultados aparecem. O Brasil tem tudo para ser um líder nessa transformação, mas precisa agir com urgência e determinação”.

O painel deixou claro que, embora os desafios sejam significativos, há maneiras concretas de avançar em direção a um sistema de mobilidade mais limpo, eficiente e inclusivo.

As conclusões desse debate serviram de base para os painéis e apresentações que se seguiram durante o “Latam Mobility & Net Zero Brazil 2025” e, mais importante, para as políticas e projetos que serão desenvolvidos nos próximos anos.